18 de novembro de 2007

Presente para Yoko



Yoko Ono

Mulher artista, mulher de artista, conceito, pura arte, puro conceito , confuso, desconhecido, fluxus, não-fluído, antes, depois, durante, conhecida só depois, descoberta, pré-conceito, instruções, conhecimento novo.
Até então apenas mulher de pop star, hoje descoberta, desafio, fluir, fluxus, conceituar, forma conceitual, ação, reflexão, paixão, mediação.
No envolvimento e descoberta dos trabalhos desta artista que nos presenteou com obras, poesia, instruções e reflexões surge a idéia concebida pela educadora Ana Luisa Sirota de retribuirmos este universo apaixonante. Como uma de instrução de Yoko, Ana propôs que cada educador produzisse um trabalho para conter em uma caixa de fósforo, foi assim que nasceu a obra Presente para Yoko, uma coleção em miniatura da História da Arte, criada com objetos do cotidiano, numa intenção bem-humorada de relembrarmos os padrões dos movimentos artísticos.

"corpocidade"

Abertura do Arlequinal RDesign 2007
Performance idealizada a partir da Carta-Conceito do Arlequinal
São Paulo, 15 de novembro de 2007




Corpo = Cidade Cidade = Corpo
Observação, Olhar, Construção...
não-desenhos, não-edifícios
não-necessidade...
O conflito entre o ser e o estar transmuta-se de questões ideológicas, sociológica e psíquicas para estado físico. O corpo observa a cidade cosmopolita e nela vê-se cercado por barreiras visuais que o impedem de comungar com a metrópole como um todo. O que se vê? Pedaços, partes, de uma escala astronômica que empilham seres, que nos colocam em puleiros físicos, como se fossemos pássaros enjaulados.
O que se observa, cada um sente-se dono absoluto de 5 cm de madeira entre grades de metais. Emplumados em nosso sono psíquico, não percebemos o outro ao nosso lado ou os acima e os abaixo. Reduzimo-nos a esculturas robóticas que servem à necessidade primária do indivíduo. A egocentroumbigocidade.



Qual é mesmo a necessidade? Desconstruir, sair do estereótipo por nós culturalmente aceito e programado. Destruir o gesto correto. Destruir o pseudoprocesso. Olhar, Ver, Enxergar, Sentir, Perceber, Questionar, Duvidar, Repensar, Tentar distintamente: Modos e Meios diversos e diferentes.
Reimaginar, reconstruir, reinventar, ou melhor, recombinar.
Fazer do corpo o unitário que se integra ao todo diferenciando-o.
Fazer da sua presença o nó no tecido, para que esta malha se recombine e integre de forma distinta, tanto estética quanto física.



Recriar a cidade através do corpo e o corpo ser a chave para a cidade.
Corpocidade.

9 de outubro de 2007

Caravaggio Recusado (1ª, 2ª e 3ª versões)

Anníbal e Branca
Caravaggio Recusado (1ª, 2ª e 3ª versões)
2006
Tríptico Fotográfico
168 x 50 cm

É indubitável considerar Michelangelo Merisi, Caravaggio, um dos grandes mestres da pintura ocidental. Seja qual o ramo de estudo da arte, historia, sociologia, psicologia ou filosofia da arte, grande parte de seus autores o reverenciam. Não por menos o fazemos também.
Ao pensarmos em um pintor conceituado, possuímos o ledo engano de considerá-lo infalível em seu intento, porém esquecemo-nos que a obra desvincula-se do artista a partir de sua finalização e apresentação ao público. No caso de Caravaggio e de sua obra São Mateus, ocorreu o impensável. O recuso de sua obra. Esta foi considerada imprópria para o seu período e o autor teve que refazê-la.
As questões levantadas com Caravaggio Recusado (1ª, 2ª e 3ª versões) remetem a diversos pontos de discussão. Primeiramente quanto à decisão do que é bom o suficiente e o que não o é. Se em tempos anteriores ficava destinado ao mecenato, nos dias atuais, é bem provável que somente a titulação tenha sido mudada. Mecenas para Marchands, das guildas (corporações de ofício) renascentistas e barrocas, para as comissões julgadoras e conselho de curadoria de alguma instituição.
Outro ponto é a questão da recusa em si. O que leva uma obra a ser recusada? Quais são os parâmetros hoje designados para que esta decisão possa ser respaldada (ou mesmo a da aprovação) – julgando que as comissões sejam totalmente isentas das relações mercadológicas ou da afirmação pública. Se o culto ao belo não mais existe, se o preciosismo técnico deixou de ser fundamental, quais são as referências para que uma obra não seja apropriada para determinada exposição ou instituição?
Em um terceiro momento estão as questões relativas à dupla de criadores. O que por nós é aceito e recusado? Quais são as relações criativas dentro da obra de arte produzida conjuntamente? Se repararmos as duas obras de São Mateus feitas, é possível reparar duas posturas de relações totalmente distintas: naquela que foi recusada a de contribuição, comunhão, onde a obra, no caso o evangelho, é escrita concomitantemente, sem sobreposição de participação de qualquer uma das personagens sobre a outra. Enquanto que na aprovada vemos uma imposição divina, a glorificação do gênio submisso à vontade divina. Como se a arte por si só já “nascesse” de modo pronto a ser aceito (quem sabe não é este o tipo de arte a ser aprovada), Mais do que compreensível a partir de então aos fortes contrastes de claro-escuro. Além da referência a Caravaggio, sobre estas questões ocultas que ainda precisam ser desveladas, é uma homenagem ao grande mestre italiano.

8 de outubro de 2007

Santo Cildo

Anníbal e Branca
Santo Cildo
2007
Fotografia Digital
57 x 175 cm
O que se santifica hoje? Quais os objetos de adoração? Como os adoramos?
Por meio de uma releitura do afresco de Leonardo da Vinci, A Santa Ceia, trazemos um ícone artístico associado a um objeto de consumo, colocando este objeto como Jesus Cristo, pela similaridade com a construção compositiva à obra renascentista, mas também pelo papel da transmutação, da uva em sangue, da uva em refrigerante. Ao mesmo tempo reverenciamos tanto o objeto quanto o artista Cildo Meirelles, pois sua obra abriu possibilidades para a arte Brasileira e nos motivou a construir esta que referencia diretamente a obra Inserções em Circuitos Ideológicos, produzida na década de 70.
Hoje, o que é santificado, não necessariamente tem relação com fé ou religião. Na arte, na música, objetos e pessoas são santificados. Este papel de sacralizar o objeto artístico está na mão das instituições, que valorizam seus acervos e santificam seus artistas, na mão das galerias que trazem a arte da rua para dentro do cubo branco, desconfigurando sua origem, descontextualizando a sua linguagem. Em contrapartida, há a discussão sobre a mercadologia da fé, ela está à venda nos meios de comunicações, em formatos midiáticos (cds, dvds e quem sabe futuramente em games de conversão religiosa), nos dízimos e indulgências sendo propagada pelo marketing religioso da compra e satisfação imediata, sem o bônus da devolução no caso de descontentamento. Vende-se como o faz a um objeto, ao sabor e desejo do freguês.
Os objetos de adoração englobam todos os bens de consumo, de uma obra, a um par de sapatos, sendo que todos terão seus valores impostos pelas instituições que os valorizaram, e a maneira de adorá-los é consumi-los seja visualmente, seja adquirindo o produto mesmo super valorizado. Ao construirmos uma obra com um objeto de circulação, dando um caráter especial a ele, estamos colocando-o em um outro grau de importância, o transformando. Não é mais uma garrafa de refrigerante, não é mais a Santa Ceia, não é Jesus e seus apóstolos, é o que o olho de quem o observa quer ver, é o que mercado quer que seja, é a foto para decorar a sala, e a inadequação de uma representação sacra, e a sacralização do que é comum, é a linguagem contemporânea usando os meios estéticos.

A PÉ EM MADRI (AUTO-RETRATO DE UM DOS ARTISTAS)

Anníbal e Branca
A pé em Madri
(Auto-Retrato de Um dos Artistas)
2005
Políptico Fotográfico
100 cm x 100 cm
(cada foto 30 cm x 30 cm)
Qual a relação entre o artista e o seu entorno? A paisagem seria uma provável resposta que obteríamos. Como esta paisagem insere na vida dos artistas da grande metrópole? Está é uma das questões mais presentes na discussão sobre o meio e o ser, entre os artistas que vivem nas grandes cidades. Se em tempos anteriores a paisagem foi representada idealizada e romantizada pelos artistas (como era apresentada em grande parte da historiografia da arte) ou como pano de fundo para os temas considerados mais nobres, hoje a paisagem está desconstruída. Esta é limitadora da visão nos grandes centros urbanos, o olhar não passa além das paredes de altura infinda dos arranha-céus. Neste panorama, ao artista cabe a aproximação desta a escala humana, a desconstrução da desumanização.
A partir deste ponto, aproxima-se a paisagem do ponto de referência do criador, onde permanece esta paisagem intacta. Certamente não é ao olhar para o seu redor, mas sim para si mesmo. O chão, o caminhar e a construção deste caminhar pela paisagem aproximam esta – que está retratada na obra A Pé em Madri (auto-retrato de um dos artistas) – a um olhar entre as intenções realistas de alguns artistas do final do séc. XIX e a dos flaneurs deste período (observadores-admiradores do sentimento de modernidade urbana). Simultaneamente, a discussão transpassa a temática anterior e relaciona-se com outra, a do auto-retrato. Se a importância da paisagem, por várias vezes, foi renegada ao segundo plano e a dos retratos (neste podemos encaixar os auto-retratos) era soberana em importância em relação à primeira, aqui levanta-se o questionamento sobre a troca do que, tematicamente, seriam os graus de importância e relevância. O artista está único e somente ele tem a referência do que está sendo visto e observado, porém a sua presença apresenta-se na quase totalidade de ausência de seu corpo ou de sua imagem na obra, remetendo-o a um espectador comum. Se assim for declarar, a presença do artista não está inserida na imagem que ele enquadra, contudo está no recorte, tanto da paisagem como da escolha estética, em que os artistas fazem desta imagem. Por tal, simultaneamente, o auto-retrato de um dos artistas, passa a ser de um único indivíduo, mas também da dupla que o constrói.Por último, porém de relevância próxima às demais abordagens, é feito o questionamento dos elementos estéticos que aparecem de modo pungente na composição. As linhas, texturas, colorações, pigmentações, construção do espaço físico através da imagem e as questões relativas à transposição para outras linguagens daquilo que anteriormente era exclusivo da pintura, são pontos de discussão feitos pela obra. Como o(s) artista(s) usa(m) esta renovação tecnológica (sic), lembrando-se que o início da fotografia é de dois séculos anteriores, para discutir as questões da pintura que são pensadas ou intuídas desde cem séculos atrás.

Christo I (Cristo Crucificado)



Anníbal e Branca
Caravaggio Recusado (1ª, 2ª e 3ª versões)
2006
Tríptico Fotográfico
168 x 50 cm
A Obra Christo I faz parte de uma série de dípticos e trípticos que abordam várias problemáticas da arte contemporânea. A relação objeto e título, a relação entre espectador e obra, a referência a um artista que consideramos e sua produção, a relação de passividade ao questionamento e aos cânones ditados pela historiografia da arte mundial e a relação embrulho e conteúdo.
Qual a primeira coisa a fazer ao observar uma obra de arte? Observamos, em diversas exposições, mostras, vernissages e afins; conduta semelhante entre os espectadores de tais eventos. Uma dinâmica celebrada, a observação de obra e da legenda, tornando ponto esclarecedor dessa admiração e dessa fruição entre o espectador e a obra que está sendo apresentada diante de seus olhos.


Existe uma coreografia pré-estabelecida, normatizada e reguladora de conhecimento. Essa coreografia consiste nos seguintes passos, a observação da obra e posteriormente da legenda, voltando-se á primeira para a compreensão. Ou os mais afoitos, a leitura da legenda, voltando-se á primeira para que a compreensão e fruição ocorram simultaneamente na sua observação.
Neste ponto o conhecimento e repertório do indivíduo concentram-se nas associações para o possível aproveitamento completo e totalizador. Agrave-se mais o fator do conhecimento pessoal. Se o artista é conhecido e conceituado, pertence ao domínio público cultural, já existe pontos de favorecimento ao acordo feito entre o observador e o produto final. Parece-nos que determinadas barreiras são dissolvidas e o questionamento passa a ser a capacidade interna de quem observa a compreensão do produto. Os artistas desconhecidos por sua vez tornam-se menos agraciados com essa liberdade de composição, tendo que transpor barreiras do conhecimento para se estabelecer com o observador.
Se as questões levantadas acima estão diretamente ligadas á obra e ao observador, qual o papel da embalagem na obra Christo I, apresentada no 30º SARP? A embalagem está relacionada ao conhecimento e ao conteúdo, ao consumo e a própria embalagem na relação de desejo.


Nessas relações abrimos o questionamento á sociedade de consumo em que estamos inseridos. Em nosso cotidiano, a nossa relação com as necessidades pessoais está intimamente ligada ao consumo de objetos, sejam alimentos ou obras de arte, que é intermediada através de embalagens que estão condicionados. Mesmo que estas embalagens signifiquem instituições que as condicionam e atestam sua qualidade.
Ao levantarmos tais referências entra-se em discussão a questão do marketing que envolve a aceitação e aquisição de produtos. Essas embalagens modificam-se conforme o grupo de consumidores a que estão destinados e amoldam o seu valor estético e financeiro (da embalagem) em relação ao que está sendo oferecido. Neste caso, propomos uma embalagem asséptica aos desejos costumeiros de quem busca uma fruição estética, aproxima-se do condicionamento dado aos alimentos em uma feira pública ou a objetos sem grande valor financeiro, de consumo próprio e não destinado a terceiros. Questionamos o desejo real ao objeto, sem interferência de uma linguagem direta ou subliminar ao apelo de consumo do observador.
O que em determinado instante pode parecer desvalorização das obras de arte que estão contidas no pacote torna-se ao contrário uma valorização da mesma e a motivação para a visualização direta através da transposição da embalagem mostrada.
Apresenta-se um jogo lúdico entre o observador e a obra. Remete-se aos jogos de memória infantis, onde as observações e considerações contidas em seu repertório necessitam serem vasculhadas para a apresentação da imagem e fruição artística tanto do artista referenciado como da obra apresentada, podendo também instigar o observador á investigação tanto do artista quanto da obra.
Ao apresentarmos essa obra estamos destacando a importância de três pontos fundamentais, a obra e si, o artista que se demonstra através da mesma e do observador, em um jogo contínuo de experimentação, sedução e reflexão. o de obra e da legenda, tornando ponto esclarecedor dessa adimiraçadores de tais eventos.