10 de fevereiro de 2011

2011 em construção



Estamos já em fevereiro de 2011 e muitas coisas a definir. Nossa dupla continua disposta a buscar sentidos e problemas para encontrarmos soluções. O fato é que estamos em marcha reduzida para melhor degustar todos os momentos da vida, e este momentos nem sempre são compartilhados aqui.
Anníbal está com novo blog http://annibalmontaldi.tumblr.com, o mais virtual da dupla e eu continuo virtual na vida real mesmo.
Que este ano ímpar seja repleto de críticas, novos trabalhos plásticos e provocações.

9 de novembro de 2010

Díalogos entre Lasar Segall e a 29a Bienal de SP


Eu , Branca, juntamente com a educadora Elaine Fontana elaboramos este curso que pretende discutir o Moderno e o Contemporâneo na arte por meio das relações entre as obras do artista Lasar Segall e algumas obras e conceitos da 29a Bienal de SP.
Ainda temos vagas para o dia 18 OU 23 de novembro
Inscrições pelo email: segall29bienal@mls.gov.br com os seguintes dados: nome, telefone, instituição, profissão e email.

4 de maio de 2010

O que esperar de uma exposição sobre Hélio Oiticica?




O Museu é o Mundo... Esse é o nome da exposição retrospectiva do artista Hélio Oiticica no Instituto Itaú Cultural.

Mas que mundo é este trazido por meio desta exposição?

O que de Hélio Oiticica realmente encontramos naquele espaço?

O Hélio questionador, propositor e provocativo está ali?

Ou estamos diante de uma alegoria do que foi e do que é o trabalho deste artista?

Durante a visita a exposição, tudo parecia que poderia ser ou estar de outra maneira.

O mais chocante ao entrar foi me deparar com aquelas araras, que primeiro me pareciam de mentira, dentro de uma grade, como um zoológico, no subsolo, ou seja elas quase não viam a luz. Pior ainda, pois faziam parte de um dos ambientes/instalação mais importantes para a História da Arte Brasileira, A Tropicália. Como um artista como Hélio, que propõe que o museu é o mundo, concordaria em refazer uma de suas obras emblemáticas colocando uma grade para fazer parte deste ambiente? O quanto esta montagem me incomodou! Como se as grades e aquelas araras estivesse ali para dizer: Nada é como ele pensou. Nós adaptamos. Nós normatizamos.

Já que não poderia ser do jeito que o artista planejou será que esses animais eram imprescindíveis? Então que seja assumidamente de mentira. O falseamento se intensifica, os Bólides do artista, obras feitas para o visitante experimentar sensações, neste andar, não poderiam ser tocados, estavam em pedestais, sacralizados. O ato de colocar um Parangolé – que em sua origem tinha um sentido político de se apropriar tanto de uma peça de arte quando do espaço da arte, o museu – também foi adulterado. Neste espaço coloco o parangolé e me olho no espelho, como uma roupa que eu compro ou um objeto de consumo.

Quem sabe os Penetráveis parecem mais verdadeiros do que o restante da exposição, como se ali todo o desejo do artista tivesse sido preservado. Isto aconteceu porque estas obras são lugares de isolamento, você entra em uma caixa e parece que o seu olhar e suas sensações são conduzidas ali. Eles se isolam do mau comprometimento entre a exposição e as obras, entre a intenção e a proposta do artista.

De fato, A pureza é um mito, como disse o próprio artista. Os obras de Hélio Oiticica foram violadas, como se o sagrado virasse profano, um ato político e consciente virasse mero entretenimento e o questionamento, este também virou mercadoria.

O museu é o mundo...




Sabemos, mas do que corrente em bocas miúdas, que Oiticica foi um grande polemizador da arte nacional. O Itaú Cultural, na exposição O Museu é o Mundo, traz uma retrospectiva desse grande artista. De colorista abstrato, de questionador de formas e planos passa a questionador das emoções. Apesar de nos dias atuais parecer-nos mais do que coerente esta trajetória artística, não o era em seu período. Bem possível que instigado pelas relações com outros artistas companheiros seus, como Lygia Clark e Lygia Pape, se propôs a transformar o olhar do observador através do seu próprio olhar.

Muito mais que provocador, Oiticica era um ser inquieto, em constante transformação. Por que não transmitir essa inquietude a quem buscava em suas obras um olhar distinto das tradicionais figurações nacionalistas? Por que não exprimir muito mais do que fatos vistos, mulatas lascivas e sofrimentos regionalistas degastadamente apresentados pelas linguagens ultrapassadas de uma vanguarda que se transformou de novidades modernistas em tradicionalismo estético?

Se o que estava em discussão não era mais o que víamos pelo mundo afora, por que não nos virarmos para o mundo adentro?

O que Oiticica e os demais buscam são as experimentações do corpo, as sensações do eu, a conduta Merleau-Pontiniana do estar no mundo e nele se envolver fenomenologicamente. Se assim o é, o plano bidimensional já havia esgotado suas relações ou, ao menos, limitava as possibilidades de existência humana em seu quadrilátero imaginário. A trajetória da bidimensionalidade para a tridimensionalidade de Oiticica está bem próximo à quebra da quarta parede no teatro. O público não somente assiste o espetáculo, mas participa dele. Retira-se o véu, desobstrui os canais, permite os sentidos experimentados, não somente vistos. Recria o simulacro do mundo em seu próprio mundo. Faz da vida a caixinha de tubos imagéticos, o mundo se torna emoldurado pelo recepiente televisivo.

Talvez seja isso o mérito de Oiticica, como o de Warhol, perceber que o mundo não seria mais como já foi, natural. A partir daquele período, o mundo tornar-se-ia, ele próprio um grande reality show, mas reality de onde?


2 de maio de 2010

Eletric Chairs, Mr America???

Andy Warhol, Eletric Chairs, 1964.

Eu sei... Muitos posts sobre Andy Warhol e sobre Mr. America estão sendo feitos, mas como evitar um tema tão pungente. O ano de 2010, em termos expositivos poderia finalizar por aqui, de tão intenso que já foi e ainda está sendo. Rauschenberg, Chagall, Oiticica, Max Ernst e Warhol, se não bastasse ainda vêm por aí Keith Haring, Joseph Beuys e Bienal de São Paulo. Contudo vamos a pauta proposta.

Por mais que a mídia discuta o poder marqueteiro de Andy Warhol, a exposição que está viajando pela América Latina traz boas obras do artista. Algumas das mais conhecidas como as “Latas de Sopas Campell”, as “Marilyns”, “Jack Kennedy”, entre outras fazem o frisson da exposição; contudo impressiona-me muito mais dois pontos, a possibilidade de perceber a aplicação das técnicas de pintura, assim por dizer, a serigrafia e o stencil, e os vídeos produzidos durante o período da Factory – em um post para frente falarei em especial de Blowjob.

Sabe-se muito bem que muitas das obras de Warhol foram conduzidas pelo artista e executadas por oficineiros com qualidades técnicas que o artisa provavelmente não possuia. Este primor técnico é revelado pelas obras que apresentam uma qualidade visual impressionante.

Vou citar uma especial. Da série Eletric Chairs, há uma das serigrafias que possui um fundo amarelo – cabe aqui um aparte: observá-las in loco percebe-se que as serigrafias, de um modo geral, não são realizadas com cores; o fundo é colorido, enquanto elas sempre são impressas em preto -, esta peça se destaca pelo domínio do artista sobre o que está querendo expor, nela ele utiliza o processo de negativação da imagem - como se parecessem com os antigos negativos de uma fotografia analógica - e consegue transformá-la em imagem positiva, como a própria foto. Tal coisa se revela e somente quando se vê ao vivo, não em reproduções.

Assim, enquanto achava que era somente uma constatação ir à exposição, novamente Warhol me surpreende, muito além da temática, das questões do movimento Pop Art ligadas ao tema, objeto e cotidiano, esbarrei com um ponto crucial dos antigos artistas, a bem feitura das obras. Quem diria, hein, Warhol?

2 de outubro de 2009

Discussões sobre conceito de arte

No dia 24 de setembro, Branca, juntamente com a educadora Luciana Nobre propuseram o curso Discussões sobre conceitos de arte: o objeto, o museu e o público, que fez parte da 3ª Primavera de Museus, no Museu Lasar Segall.Neste curso foi possível discutir e mapear as mudanças no conceito de arte, pensando nos eixos históricos Arte Acadêmica, Moderna e Contemporânea e em como o objeto artístico, o museu e o expectador se articulam em cada período. Para isso as educadoras utilizaram reproduções de imagens e trechos de textos teóricos e também a experiência com o objeto artístico que se deu com obras de Lasar Segall no espaço expositivo do Museu e também com duas obras contemporâneas, “Objetos para Performance”de Luciana Nobre e “Coleção História da Arte Anníbal e Branca”.


escolha de trechos de textos e reproduções e experiência com as obras " Coleção História da Arte Anníbal e Branca" e "Objetos para Performance"

Instruções em um papelaria

Como artista contemporânea que sou, foi a papelaria para pesquisar preços de materiais. Qual foi minha surpresa e euforia ao me deparar com objetos descontextualizados dentro da papelaria. Talvez descontextualizados não seja a melhor palavra, mas em outro contexto, pois em uma prateleira, ao lado de cadernos, canetas e lapiseiras, havia um display com objetos dentro de caixas, cada um deles com instruções para um uso diferente deste objeto, como macarrão instantâneo para fazer discurso político, copo vazio para escutar uma sala vazia, pilhas para correr ladeira abaixo, castanholas para acordar um galo.
Coleção Objetos para Performance, Luciana Nobre, 2008

Estas instruções me fizeram lembrar das obras de Yoko Ono, onde apenas com instruções ela sugeria atitudes diferentes para o cotidiano.
O trabalho de Luciana Nobre, o nome da artista em questão, vai além das instruções de Yoko, pois além de pensar em objetos de outras maneiras, ela busca discutir essa relação com o público e traz a arte para um universo contemporâneo, ou seja, o próprio cotidiano, desloca o objeto do museu e junto com ele a atitude do espectador, que olha a princípio uma mercadoria que não pode ser adquirida, um objeto que tem uma sugestão de uso, mas não pode ser usado de fato, sua manipulação também só se dá através da embalagem, sua real utilização permanecerá na idéia, como as instruções da Yoko.
Ao colocar na papelaria os “Objetos para Perfomance” discute os lugares de legitimação da arte, mas busca a sua própria legitimação como objetos comuns, eles estão no limite do cotidiano e da arte, da cultura de massa e da cultura acadêmica, do museu e do mundo.