4 de maio de 2010

O museu é o mundo...




Sabemos, mas do que corrente em bocas miúdas, que Oiticica foi um grande polemizador da arte nacional. O Itaú Cultural, na exposição O Museu é o Mundo, traz uma retrospectiva desse grande artista. De colorista abstrato, de questionador de formas e planos passa a questionador das emoções. Apesar de nos dias atuais parecer-nos mais do que coerente esta trajetória artística, não o era em seu período. Bem possível que instigado pelas relações com outros artistas companheiros seus, como Lygia Clark e Lygia Pape, se propôs a transformar o olhar do observador através do seu próprio olhar.

Muito mais que provocador, Oiticica era um ser inquieto, em constante transformação. Por que não transmitir essa inquietude a quem buscava em suas obras um olhar distinto das tradicionais figurações nacionalistas? Por que não exprimir muito mais do que fatos vistos, mulatas lascivas e sofrimentos regionalistas degastadamente apresentados pelas linguagens ultrapassadas de uma vanguarda que se transformou de novidades modernistas em tradicionalismo estético?

Se o que estava em discussão não era mais o que víamos pelo mundo afora, por que não nos virarmos para o mundo adentro?

O que Oiticica e os demais buscam são as experimentações do corpo, as sensações do eu, a conduta Merleau-Pontiniana do estar no mundo e nele se envolver fenomenologicamente. Se assim o é, o plano bidimensional já havia esgotado suas relações ou, ao menos, limitava as possibilidades de existência humana em seu quadrilátero imaginário. A trajetória da bidimensionalidade para a tridimensionalidade de Oiticica está bem próximo à quebra da quarta parede no teatro. O público não somente assiste o espetáculo, mas participa dele. Retira-se o véu, desobstrui os canais, permite os sentidos experimentados, não somente vistos. Recria o simulacro do mundo em seu próprio mundo. Faz da vida a caixinha de tubos imagéticos, o mundo se torna emoldurado pelo recepiente televisivo.

Talvez seja isso o mérito de Oiticica, como o de Warhol, perceber que o mundo não seria mais como já foi, natural. A partir daquele período, o mundo tornar-se-ia, ele próprio um grande reality show, mas reality de onde?


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