7 de maio de 2009

Conversas Diáfanas II

.
anníbal e branca - Como você definiria um artista plástico?
Rogério Degaki - Quando me perguntam o que é ser um artista plástico, respondo que é uma profissão como outra qualquer. Requer disciplina, trabalho, dedicação, etc.
O fato de lidarmos em um campo não-concreto, em que a criação não necessariamente resulte em um produto, cria uma aura romântica; a aura do artista que olha uma tela em branco e com um gesto resolve as mazelas do mundo!
O artista se utiliza de elementos abstratos como sensibilidade, criatividade, talento, etc... Mas, como já dito, como em qualquer outra profissão o trabalho não se desenvolve se não houver dedicação e persistência, ou seja, se não colocar a "mão na massa".
Para alguns de meus familiares (imigrantes que vieram "ganhar" a vida no Brasil) quando estou fazendo pesquisa ou estudando para algum trabalho novo, a percepção que possuem é que o que estou realizando não é trabalho!
A relação de sucesso com esforço é muito comum!
E isso geneticamente acaba se revelando no meu trabalho, curto o apreço pelo fazer, tanto que a "coisa" da manufatura manual faz parte da conceitualização e da minha pesquisa. O manual que parece industrial.
.
ab - O que te faz criar novas obras? Como é seu processo de criação?
RD - Sou de uma geração em que a MTV, apareceu durante minha adolescência e sua influência era inevitável, bem como o "zapping" e a velocidade de informações e imagens dos videoclipes.
Toda essa gama de imagens faz parte do meu processo de repertório aleatório de referências - uma vestimenta, um desenho, uma estampa, uma atitude -; tudo acaba sendo material para minha criação.
Da mesma forma que essas imagens chegam aos montes, a necessidade de exteriorizar isso em forma de trabalho se faz imprescindível.
Ando com um caderno de rascunho, onde faço anotações, desenhos, observações, recortes, etc. Com estas referências elaboro imagens para meus desenhos, pinturas e esculturas. Tenho notado que quando transformo meus desenhos em esculturas, o bidimensional para o tridimensional, ele se transforma e, por muitas vezes, acabo me surpreendendo com o resultado. Essa transformação tem me motivado a trabalhar cada vez mais.
Decidir um membro da escultura, o tamanho, a cor, um adereço... E como o espectador vai se relacionar com isso é muito motivador.
.
ab - Você acha importante pensar no observador durante a criação de suas obras?
RD - Sempre me importo com o espectador. A origem do trabalho que venho realizando se deve a uma discussão que tive com o Nelson Leirner em um workshop.
Ele afirmava que a arte era para uma parcela da sociedade instruída e não para todos. Discordei, pois acho que mesmo sem um grau de erudição, existem outras formas de "entrada" para uma obra de arte.
Ele me mostrou que o trabalho que vinha fazendo relacionado à História da Arte, era o trabalho mais hermético que ele conhecia, pois a imagem sem o conhecimento prévio, não fazia o trabalho.
Após uma crise, passei a pensar na estética fácil como base da conceitualização. Quando digo estética fácil penso em imagens que a princípio seduz qualquer observador, um exemplo para esta estático posso citar um trabalho da Monica Nador que conheci, o trabalho se consistia em fotos de filhotes de gatinhos - típico de calendário popular - e o apelo daquela imagem era o trabalho artístico em si.
Voltei minha pesquisa para os objetos e imagens que, no Japão, usam o termo “kawai” ou traduzido, fofinho e engraçadinho. Imagens infantis usadas para atrair atenção sejam para fins publicitários e comerciais ou para placas de sinalização de perigo. A relação do público adulto com essas imagens escapistas e caricatas é parte da proposta do meu trabalho junto ao espectador.
.
ab - Quais obras de arte que te inspiram? Estas escolhas mudam conforme a sua produção artística?
RD - Acho que hoje tenho inspiração de alguns artistas, ou na formação da minha poética, ou proximidade estética. Acredito que as escolhas mudam e estas são agregadas e descartadas conforme o passar do tempo e a direção do trabalho em si.
Já ouvi algumas vezes que meu trabalho parece com o de fulano ou o de outro. Mas como expliquei acima, sou de uma geração que é bombardeada de informações comuns e acesso fácil a elas, seria muita pretensão querer ficar imune às imagens diárias recebidas e considerar-me o único afetado por tais informações.
.
ab - Um artista pode ser considerado como tal sem estar inserido no mercado de arte?
RD - Sim.

Um comentário:

jair pimentel disse...

Gostei da entrevista , do aspecto da criação do artista, mas discordo sobre o acesso a obras de arte! São tres fatores : economico, instrução e tempo !!