22 de abril de 2009

Antíteses Emocionais, o trabalho de Rodolpho Parigi

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Rodolpho Parigi. Forma de Luna, 2006, Fotográfia digital e óleo sobre tela, 20 x 40 cm.
Coleção Camila Belchior, São Paulo, Brasil


Quando pensamos em uma palavra, sensações nos remetem automaticamente. Ainda mais quando solta ao ar, sem conexões previstas ou predeterminadas. Soltaremos uma ao léu. E desenvolveremos uma idéia sobre ela. Antes de ler o texto abaixo, faça suas relações, estabeleça as conexões e depois perceba o que há de comum e distinto entre estas e as nossas.

Útero.

O órgão feminino que primeiro nos acomoda. Sem mesmo a intenção da própria maternidade exercida pela incubadora, ele nos recebe e conforta. As primeiras sensações são de receptividade e acolhimento. O olhar poético e afetivo sobre ele e às associações a gestação feminina nos é agradável.
Se associarmos ao ato procriador ou o que leva a ele, evoca a eterna tentativa de conquista do masculino sobre o feminino. Do ato sexual, cru e violentador – sem a conotação criminosa -, da busca do íntimo, desconhecido e inacessível que o feminino contém pela força física e bruta do coito. A intangível dominação do forte sobre o sensível e o fascínio que este proporciona. A presença do incabível, o erótico e o materno no mesmo espaço. Um emaranhado de redes sentimentais que leva à vertigem e a explosão de sentimentos contínuos e simultâneos.


Rodolpho Parigi. Papel 3, 2008, Nanquim sobre papel, 261 x 150 cm.
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Por último, o órgão em si. Exposto como ele é, carnal, sanguíneo, patológico e vital. A imagem vermelha do nosso interno. O raio X, a tomografia, a imagem do nosso corpo aberto e escancarado.Cremos que a obra de Parigi cerca-se de sensações bem próximas das descritas acima.
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Rodolpho Parigi. Blue Violet 1, 2006, óleo sobre tela, 130 x 200 cm.
Coleção Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo.
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Antíteses para uma mesma palavra. Sensações antagônicas e complementares para a mesma imagem. Ora o nu e cru são entregues ao sublime e contemplativo como na obra Forma de Luna de 2006; ora os sentimentos estão emaranhados em imagens orgânicas como na série Papel de 2008 ou ainda a sensação de prolixidade perceptiva provocada pela profusão de cores em alguns trabalhos (séries Blue Violet e Limite) é substituída pelo desenho intenso das linhas pretas sobre o suporte branco (série Apropri­_Ação).
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Rodolpho Parigi. Limite 1, 2006, tinta serigráfica, acrílico e óleo sobre tela, 200 x 160 cm.
Coleção Adriana Varejão e Bernardo Paz, BH, Brasil
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Sua obra traz referências estilísticas tão divergentes quanto os sentimentos causados: barroco e neoclássico, romântico e realista, pop e op artes... Transita livremente entre as imagens, as sensações e os elementos formais. Bem possível que a habilidade que possua esteja nesta liberdade contemporânea de transitar entre o que seria improvável.
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Rodolpho Parigi. Apropri_Ação 9, 2007, tinta acrílica sobre parede, 275 x 480 cm.
Trabalho realizado no Jockey Club do Rio de Janeiro, Brasil.
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