18 de maio de 2009

Conversas Diáfanas III

.
anníbal e branca - Como você definiria um artista plástico?
Mauro Piva - Artista Plástico é um profissional que, independente da mídia, trabalha com conceitos antes de tudo. Aí está a sua diferença para um artista decorativo ou alguém que use a arte como um hobby. O Conceito no trabalho é o que diferencia o artista plástico.
Um bom artista, independente de tentar despertar emoções, contar histórias, questionar, provocar, é um profissional que, embasado conceitualmente, cria uma obra que possa se comunicar de diferentes maneiras com diferentes pessoas, cria obras "abertas".
.
ab - O que te faz criar novas obras?
MP - A vida e a necessidade de falar das coisas que acontecem, aconteceram e acontecerão; seja comigo, com pessoas próximas, com pessoas que não conheço. Um artista, pra mim, é um editor da realidade. Ele absorve milhões de informações, idéias, sentimentos e conceitos, e devolve (de alguma maneira) ao mundo o que acha que deve, o que sente prazer em devolver, questões que acha que valem a pena serem perguntadas, etc. Mas sempre com um pouco de si.
.
ab - Como é seu processo de criação?
MP - Apesar de eu ser muito metódico, não tem muita regra. Às vezes fico "maquinando" até conseguir o que quero, outras vezes a coisa simplesmente acontece. O que eu acho mais importante, e tento fazer, é estar sempre "aberto" para o mundo. Às vezes tem tanta coisa em volta e acontecendo que a gente nem percebe. Não saio de casa sem meu caderno de esboços e uma máquina fotográfica, mesmo que esta seja a do celular. Por falar em caderno de esboços, eu tenho muitos, muitos mesmo. Trato deles com o maior carinho. Ali é o primeiro registro de quase tudo o que eu faço, só não digo que é onde tudo começa porque é na cabeça, processando os estímulos que recebo, mas é na maneira de devolvê-los, que o bicho pega.
.
ab - Você acha importante pensar no observador durante a criação de suas obras?
MP - Sim! Sem o observador a obra não acontece, ela precisa ser vista, sentida. É necessário que exista algum tipo de comunicação entre as duas partes.
.
ab - Quais obras de arte que te inspiram? Estas escolhas mudam conforme a sua produção artística?
MP - São muitas, e de tempos em tempos, percebo que estou olhando muito para alguns artistas que não olhava muito antes. Acho que tem uma relação com o momento que eu estou passando, com o que estou produzindo, pesquisando.
Existem, porém, artistas que não consigo parar de olhar, pesquisar, admirar, independente do meu momento e do que estiver produzindo. São eles: Rembrandt, Vermeer, Van Gogh, e para sair da Holanda e viajar para a nossa época, tem a Elizabeth Peyton e Julian Opie(1).
.
(1) Obras de Elizabeth Peyton e Julian Opie no final da entrevista.
.
ab - Um artista pode ser considerado como tal sem estar inserido no mercado de arte?
MP - Sim, desde que ele consiga de alguma maneira fazer o trabalho dele entrar um contato com as pessoas.
Aí, podemos pensar -"Ah, o Van Gogh morreu sem ter vendido uma única tela, sem ter exposto seus trabalhos, sem nenhum reconhecimento!”.
Realmente isso ocorreu, mas foi só quando as obras dele "entraram em contato" com o público, seja de galeristas, colecionadores, e apreciadores em geral, que ele obteve o reconhecimento que merecia.

Elizabeth Peyton. Georgia (after Stieglitz), 2006, Nanquim com água tinta, 76,2 x 55,9 cm.

Julian Opie. Leanne and Ed lift, 2008.


Julian Opie. Yayoi relaxes in the gardens, 2009.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito boa a entrevista, curta e grossa.O artista esta de parabéns !