8 de outubro de 2007

A PÉ EM MADRI (AUTO-RETRATO DE UM DOS ARTISTAS)

Anníbal e Branca
A pé em Madri
(Auto-Retrato de Um dos Artistas)
2005
Políptico Fotográfico
100 cm x 100 cm
(cada foto 30 cm x 30 cm)
Qual a relação entre o artista e o seu entorno? A paisagem seria uma provável resposta que obteríamos. Como esta paisagem insere na vida dos artistas da grande metrópole? Está é uma das questões mais presentes na discussão sobre o meio e o ser, entre os artistas que vivem nas grandes cidades. Se em tempos anteriores a paisagem foi representada idealizada e romantizada pelos artistas (como era apresentada em grande parte da historiografia da arte) ou como pano de fundo para os temas considerados mais nobres, hoje a paisagem está desconstruída. Esta é limitadora da visão nos grandes centros urbanos, o olhar não passa além das paredes de altura infinda dos arranha-céus. Neste panorama, ao artista cabe a aproximação desta a escala humana, a desconstrução da desumanização.
A partir deste ponto, aproxima-se a paisagem do ponto de referência do criador, onde permanece esta paisagem intacta. Certamente não é ao olhar para o seu redor, mas sim para si mesmo. O chão, o caminhar e a construção deste caminhar pela paisagem aproximam esta – que está retratada na obra A Pé em Madri (auto-retrato de um dos artistas) – a um olhar entre as intenções realistas de alguns artistas do final do séc. XIX e a dos flaneurs deste período (observadores-admiradores do sentimento de modernidade urbana). Simultaneamente, a discussão transpassa a temática anterior e relaciona-se com outra, a do auto-retrato. Se a importância da paisagem, por várias vezes, foi renegada ao segundo plano e a dos retratos (neste podemos encaixar os auto-retratos) era soberana em importância em relação à primeira, aqui levanta-se o questionamento sobre a troca do que, tematicamente, seriam os graus de importância e relevância. O artista está único e somente ele tem a referência do que está sendo visto e observado, porém a sua presença apresenta-se na quase totalidade de ausência de seu corpo ou de sua imagem na obra, remetendo-o a um espectador comum. Se assim for declarar, a presença do artista não está inserida na imagem que ele enquadra, contudo está no recorte, tanto da paisagem como da escolha estética, em que os artistas fazem desta imagem. Por tal, simultaneamente, o auto-retrato de um dos artistas, passa a ser de um único indivíduo, mas também da dupla que o constrói.Por último, porém de relevância próxima às demais abordagens, é feito o questionamento dos elementos estéticos que aparecem de modo pungente na composição. As linhas, texturas, colorações, pigmentações, construção do espaço físico através da imagem e as questões relativas à transposição para outras linguagens daquilo que anteriormente era exclusivo da pintura, são pontos de discussão feitos pela obra. Como o(s) artista(s) usa(m) esta renovação tecnológica (sic), lembrando-se que o início da fotografia é de dois séculos anteriores, para discutir as questões da pintura que são pensadas ou intuídas desde cem séculos atrás.

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