8 de outubro de 2007

Santo Cildo

Anníbal e Branca
Santo Cildo
2007
Fotografia Digital
57 x 175 cm
O que se santifica hoje? Quais os objetos de adoração? Como os adoramos?
Por meio de uma releitura do afresco de Leonardo da Vinci, A Santa Ceia, trazemos um ícone artístico associado a um objeto de consumo, colocando este objeto como Jesus Cristo, pela similaridade com a construção compositiva à obra renascentista, mas também pelo papel da transmutação, da uva em sangue, da uva em refrigerante. Ao mesmo tempo reverenciamos tanto o objeto quanto o artista Cildo Meirelles, pois sua obra abriu possibilidades para a arte Brasileira e nos motivou a construir esta que referencia diretamente a obra Inserções em Circuitos Ideológicos, produzida na década de 70.
Hoje, o que é santificado, não necessariamente tem relação com fé ou religião. Na arte, na música, objetos e pessoas são santificados. Este papel de sacralizar o objeto artístico está na mão das instituições, que valorizam seus acervos e santificam seus artistas, na mão das galerias que trazem a arte da rua para dentro do cubo branco, desconfigurando sua origem, descontextualizando a sua linguagem. Em contrapartida, há a discussão sobre a mercadologia da fé, ela está à venda nos meios de comunicações, em formatos midiáticos (cds, dvds e quem sabe futuramente em games de conversão religiosa), nos dízimos e indulgências sendo propagada pelo marketing religioso da compra e satisfação imediata, sem o bônus da devolução no caso de descontentamento. Vende-se como o faz a um objeto, ao sabor e desejo do freguês.
Os objetos de adoração englobam todos os bens de consumo, de uma obra, a um par de sapatos, sendo que todos terão seus valores impostos pelas instituições que os valorizaram, e a maneira de adorá-los é consumi-los seja visualmente, seja adquirindo o produto mesmo super valorizado. Ao construirmos uma obra com um objeto de circulação, dando um caráter especial a ele, estamos colocando-o em um outro grau de importância, o transformando. Não é mais uma garrafa de refrigerante, não é mais a Santa Ceia, não é Jesus e seus apóstolos, é o que o olho de quem o observa quer ver, é o que mercado quer que seja, é a foto para decorar a sala, e a inadequação de uma representação sacra, e a sacralização do que é comum, é a linguagem contemporânea usando os meios estéticos.

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