9 de outubro de 2007

Caravaggio Recusado (1ª, 2ª e 3ª versões)

Anníbal e Branca
Caravaggio Recusado (1ª, 2ª e 3ª versões)
2006
Tríptico Fotográfico
168 x 50 cm

É indubitável considerar Michelangelo Merisi, Caravaggio, um dos grandes mestres da pintura ocidental. Seja qual o ramo de estudo da arte, historia, sociologia, psicologia ou filosofia da arte, grande parte de seus autores o reverenciam. Não por menos o fazemos também.
Ao pensarmos em um pintor conceituado, possuímos o ledo engano de considerá-lo infalível em seu intento, porém esquecemo-nos que a obra desvincula-se do artista a partir de sua finalização e apresentação ao público. No caso de Caravaggio e de sua obra São Mateus, ocorreu o impensável. O recuso de sua obra. Esta foi considerada imprópria para o seu período e o autor teve que refazê-la.
As questões levantadas com Caravaggio Recusado (1ª, 2ª e 3ª versões) remetem a diversos pontos de discussão. Primeiramente quanto à decisão do que é bom o suficiente e o que não o é. Se em tempos anteriores ficava destinado ao mecenato, nos dias atuais, é bem provável que somente a titulação tenha sido mudada. Mecenas para Marchands, das guildas (corporações de ofício) renascentistas e barrocas, para as comissões julgadoras e conselho de curadoria de alguma instituição.
Outro ponto é a questão da recusa em si. O que leva uma obra a ser recusada? Quais são os parâmetros hoje designados para que esta decisão possa ser respaldada (ou mesmo a da aprovação) – julgando que as comissões sejam totalmente isentas das relações mercadológicas ou da afirmação pública. Se o culto ao belo não mais existe, se o preciosismo técnico deixou de ser fundamental, quais são as referências para que uma obra não seja apropriada para determinada exposição ou instituição?
Em um terceiro momento estão as questões relativas à dupla de criadores. O que por nós é aceito e recusado? Quais são as relações criativas dentro da obra de arte produzida conjuntamente? Se repararmos as duas obras de São Mateus feitas, é possível reparar duas posturas de relações totalmente distintas: naquela que foi recusada a de contribuição, comunhão, onde a obra, no caso o evangelho, é escrita concomitantemente, sem sobreposição de participação de qualquer uma das personagens sobre a outra. Enquanto que na aprovada vemos uma imposição divina, a glorificação do gênio submisso à vontade divina. Como se a arte por si só já “nascesse” de modo pronto a ser aceito (quem sabe não é este o tipo de arte a ser aprovada), Mais do que compreensível a partir de então aos fortes contrastes de claro-escuro. Além da referência a Caravaggio, sobre estas questões ocultas que ainda precisam ser desveladas, é uma homenagem ao grande mestre italiano.

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